Património Industrial

Demolições em curso na Auto-Palace (IIP), pedido de esclarecimentos à DGPC 1024 576 Paulo Ferrero

Demolições em curso na Auto-Palace (IIP), pedido de esclarecimentos à DGPC

Exmo.Sr. Director-Geral
Arq. João Carlos Santos
C.C. PCML, AML, JF, Vereadora da CML e media
Considerando que o edifício da Auto-Industrial, antiga Auto-Palace, sito na Rua Alexandre Herculano, nº 66, em Lisboa, é Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 29/84, DR, 1.ª série, n.º 145 de 25 junho 1984 / ZEP, Portaria n.º 529/96, DR, 1.ª série-B, n.º 228 de 01 outubro 1996) e que decorrem neste momento demolições nos seus interiores, tendo já desaparecido as paredes da rampa principal (imagens 1 e 2) e, eventualmente, o próprio “mezzanino” (imagem3);
Solicitamos a V. Exa. que nos esclareça sobre quais as demolições que, efectivamente, foram aprovadas pelos serviços da DGPC para que tal possa ter sido feito.
E se – dada a experiência em variadíssimos outros casos de alterações durante a obra sem a devida autorização prévia – os serviços da DGPC irão acompanhar a execução da obra aprovada.
Igualmente, chamamos a atenção de V. Exa. para a necessidade de salvaguardar a sinalética pintada e outra (móvel), que deverá ser preservada in situ.
Na expectativa, apresentamos os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Nuno Caiado, Miguel de Sepúlveda Velloso, António Araújo, Fernando Jorge, Maria Teresa Goulão, Luís Carvalho e Rego, Helena Espvall, Irene Santos, Maria do Rosário Reiche, Rui Pedro Martins, Teresa Silva Carvalho, Filipe de Portugal, Fátima Castanheira, Gustavo da Cunha, Jorge Pinto, Pedro Formozinho Sanchez, Ruth da Gama, António Dias Coelho
Fotos: GG Photography (Fev. 2023)

Resposta da DGPC (25.07.2023)

«Ex.mos Senhores,

Ao Fórum Cidadania,

 

Encarrega-me o Chefe da DPAP, arquitecto Jorge Fernandes, lamentando o atraso, de informar quanto às questões apresentadas por mail de 17.04.2023 sobre o projecto aprovado e obras em curso no edifício Garagem Auto-Palace, IIP – imóvel de interesse público (Decreto n.º 29/84, DR, I Série, n.º 145, de 25-06-1984):

– as demolições aprovadas constam do processo DRL-DS/2002/11-06/5954/POP/113703 (C.S:238026), com parecer final emitido em 04.07.2022, que pode ser consultado nas nossas instalações ou nos serviços camarários que emitiram a licença de alterações;

– sumariamente, as demolições aprovadas dizem respeito a compartimentação e um núcleo de escadas não originais;

– foi ainda aprovado, em 07.07.2023, projecto de alterações durante a execução da obra que não propõe mais demolições;

– a fiscalização da obra compete em primeira instância à Câmara Municipal de Lisboa, no âmbito do RJUE;- embora

“a sinalética e outra (móvel)” não esteja abrangida pela classificação do bem imóvel, a mais significativa será preservada in situ, de acordo com esclarecimentos prestados por representante do promotor, em visita à obra, prevendo-se ainda a instalação de pequeno núcleo museológico com peças cedidas pela Auto Industrial, no varandim oposto à fachada principal, no piso superior – anexam-se algumas fotos ilustrativas, com data de 20.07.2023.

 

Com os melhores cumprimentos,

Ana Luísa Freitas

Técnica Superior / Arquitecta

Divisão do Património Arquitetónico e Paisagístico / DPAP»

Apelo à CML p/ não deixar demolir 4 peças fundamentais da arquitectura industrial de Lisboa 1024 768 Paulo Ferrero

Apelo à CML p/ não deixar demolir 4 peças fundamentais da arquitectura industrial de Lisboa

Exmo. Sr. Presidente da CML

Eng. Carlos Moedas,

Exma. Sra. Vereadora do Urbanismo

Eng. Joana Almeida

 

C.C. AML, JFPN, DGPC e media

Como é do conhecimento de V. Exas., perfazem sete anos exactos sobre as comemorações do Ano Europeu do Património Industrial e Técnico, durante as quais se desenvolveu um conjunto significativo de iniciativas em prol da divulgação desse património, tão esquecido em Portugal, e anunciando-se uma série de acções concretas pela sua preservação e boa re-utilização, cuja concretização, contudo, se mostrou inconsequente na maior parte dos casos, em que Lisboa não foi excepção.

Assistindo-se neste momento a uma aposta forte da Câmara Municipal de Lisboa nas novas tecnologias e na nova era industrial, vide o “Hub Criativo do Beato”, a Websummit, os “unicórnios”, cremos ser por demais oportuno e justificado que a CML não permita que se consuma o desaparecimento irreversível do punhado de edifícios e equipamentos fabris, emblemáticos da ordem industrial anterior à presente; os quais, embora despojados há muito das suas máquinas e das pessoas que ali laboravam, permanecem de pé, na imponência da sua arquitectura despida de vida.

De elementar justiça também porque esses exemplares edificados no âmbito do plano urbanístico de Étienne Degröer, encontram-se ao longo da Avenida Infante D. Henrique, ou seja, curiosa e precisamente no mesmo eixo onde hoje despontam as start-up dos milhões de dólares da Iniciativa 4.0: entre o Beato e o Parque das Nações.

Nas últimas décadas houve várias fábricas e equipamentos que ali foram demolidos, nada restando delas senão fotos de arquivo. 

Outras foram alteradas profundamente – ex. a Fábrica Kores (1956-57), de Bento d’Almeida e Victor Palla, hoje Dietimport Olivais.

Outras foram-no menos: Baptista Russo & Irmão, hoje Decathlon, a antiga UTIC (1948), hoje Teleperformance.

Outras quase nada: o edifício-sede da Soponata, no Beato, a fábrica Bruno Janz (Herdeiros), a outra Kores, junto à Gare do Oriente, a Confecções Laneiro (1951-54, de Teotónio Pereira e Vasco Costa), hoje propriedade da CML.

Mas há alguns deles em risco iminente de abate a curto-prazo, se a CML não intervier, reprovando os respectivos projectos ou fazendo com que seja corrigido aquilo que está aprovado mal:

– Os gasómetros da Matinha (1939-1940) – no projecto de loteamento da Matinha (2011) está contemplada a demolição (!) de um dos quatro gasómetros, a incorporação de outros dois num futuro hotel e num equipamento de índole cultural no quarto gasómetro.

– A antiga têxtil Fábrica Barros (na Av. Infante D. Henrique, 331, com projecto de Cottineli Telmo, 1947, e Veloso Camelo, 1949), que nos projectos de loteamento aprovados pela CML (proc.25/URB/2017 e proc.9/URB/2019) é demolida! (foto)

– Os edifícios em tijolo da Sacor, sobre os quais, pese embora tenha havido um chumbo da CML à demolição preconizada em 2004, certamente existirá nova intenção de abate.

– A antiga Crown Cork & Seal (1952, do eng. Henrique Botta Conde de Paixa, na Av. Infante D. Henrique, lote 25), relativamente à qual está em apreciação na CML o proc. 666/EDI/2018, que prevê o seu abate.

Ninguém compreenderá que a CML repita erros do passado e deixe desaparecer estes 4 exemplares maiores da nossa revolução industrial dos anos 40-50, abdicando de garantir o seu reaproveitamento, quiçá neles se albergando as empresas desta nova revolução industrial. Tal como a CML, na óptica das “smart cities”, deveria geo-referenciar e catalogar todos esses edifícios, abrangê-los na Carta Municipal do Património e defender uma política clara pela sua preservação e memória.

Apelamos, por isso, a que a CML interceda junto dos promotores de modo a que os exemplos acima referidos sejam preservados, recuperados e reutilizados de modo a que se dignifique o património ainda existente, os seus autores e um passado que, não esqueçamos, permitiu que chegássemos ao presente.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Miguel de Sepúlveda Velloso, Nuno Caiado, Pedro Formozinho Sanchez, Fernando Jorge, Teresa Silva Carvalho, Luís Mascarenhas Gaivão, Jorge Pinto, Rui Pedro Martins, Inês Beleza Barreiros, Pedro Henrique Aparício, Raquel Henriques da Silva, Maria Teresa Goulão, Fátima Castanheira, Carlos Boavida, Helena Espvall, Irene Santos, Ruth da Gama

 

Pedido de classificação dos 4 Gasómetros da Matinha 1024 1009 Paulo Ferrero

Pedido de classificação dos 4 Gasómetros da Matinha

Ex.mo. Sr. Director-Geral do Património Cultural
Arq. João Carlos Santos,
Ex.ma. Sra. Subdirectora-Geral do Património Cultural
Dra. Maria Catarina Coelho
Vimos por este meio solicitar à Direcção-Geral do Património Cultural, na pessoa de V. Exas., a classificação dos quatro Gasómetros da Matinha, pela sua relevância histórica na cidade e no país, enquanto símbolos da nossa indústria moderna, e também porque são únicos em Portugal.
De facto, já só não existe nenhuma evidência das outras fábricas de gás anteriores e nem dos gasómetros, por exemplo, da Av. Infante Santo, como é nossa convicção que, se existe uma memória física na cidade para a Água (Barbadinhos) e para a Electricidade (Central Tejo), é necessário preservarmos também a memória do Gás e do seu abastecimento à Lisboa moderna.
Assim, temos o prazer de enviar a V. Exas. o requerimento inicial para o respectivo procedimento de classificação, fazendo votos do seu bom acolhimento por essa Direcção-Geral.
Com os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Miguel de Sepúlveda Velloso, Inês Beleza Barreiros, Luís Mascarenhas Gaivão, Jorge Pinto, Fátima Castanheira, Pedro Jordão, Pedro Formozinho Sanchez, Carlos Boavida, Fernando Jorge