Protesto à Fundação Ricardo Espírito Santo Silva pelo bar esplanada junto ao Palácio Azurara (27.11.2024)
Exmª Srª Presidente da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva
Dra. Gabriela Canavilhas
C.C. PCML
Serve o presente para solicitarmos a V. Exa. que nos esclareça como é possível que a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva tenha como inquilino o bar “Piña Colada Sexy”, cuja esplanada está retratada na fotografia em anexo e na qual se debita música a toda a hora e se angariam clientes aos berros com “slogans” mais próprios de uma praia do Terceiro Mundo, se bem que de acordo com o “circo” em que aquele miradouro se tornou nos últimos anos e que teima em persistir.
Sabemos das dificuldades financeiras por que tem vindo a passar a FRESS, que são do conhecimento público, sabemos do fecho de muitas das oficinas que deram fama e tornaram célebre a vossa escola de artes decorativas, e têm-nos chegado informações de vários problemas físicos no Palácio Azurara, desde logo infiltrações em várias salas; mas é para nós chocante assistir ao triste espectáculo que nos é dado a ver e a ouvir junto a esse Monumento de Interesse Público, por ser indigno da história da vossa instituição e da vossa missão, mas indigno das Portas do Sol e da cidade de Lisboa.
É para nós inexplicável que a FRESS aceite inquilinos como o que motiva este e-mail, que em nada contribui para a melhoria do local, sobretudo se tivermos como termo de comparação o saudoso “Cerca Moura”, infelizmente há muito tempo desaparecido do convívio dos lisboetas.
É certo que a cidade vive ultimamente num clima “low cost” a vários níveis, mas não podemos acreditar que a Fundação, pela parte que lhe toca, não possa e não deva fazer muito melhor.
Na expectativa, apresentamos os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Miguel de Sepúlveda Velloso, Nuno Caiado, Maria Ramalho, Rui Pedro Martins, Gustavo da Cunha, Beatriz Empis, António Araújo, João Teixeira, Jorge Pinto, Filipe de Portugal, António Miranda, Conceição Delgado
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Resposta da Presidente da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (29.11.2024)
Exmos. Membros do Forum Cidadania LX,
Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Miguel de Sepúlveda Velloso, Nuno Caiado, Maria Ramalho, Rui Pedro Martins, Gustavo da Cunha, Beatriz Empis, António Araújo, João Teixeira, Jorge Pinto, Filipe de Portugal, António Miranda, Conceição Delgado
Em resposta à vossa carta pública, porque também dirigida diretamente a mim por correio eletrónico solicitando explicações, venho esclarecer o seguinte:
- O inquilino da FRESS que mantém a esplanada “Pina Colada”, mantém um contrato com esta instituição destinado à utilização de espaços no interior do edifício da FRESS;
- A esplanada que mantém no espaço público foi negociada, autorizada e licenciada diretamente com a autarquia de Lisboa, designadamente a CML e a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, matéria que se encontra fora da esfera de atuação da FRESS.
- Lamentamos profundamente que uma organização com os créditos e experiência do Forum Cidadania LX sobre assuntos de organização territorial urbana, regulação patrimonial e legislação local e nacional, não estivesse munida de informação suficiente para saber que a FRESS é totalmente alheia à utilização que é dada ao espaço público em Lisboa, mesmo que dentro do perímetro (passeio público) da sua sede e Museu.
- Ao imputar essa responsabilidade à FRESS, e de forma pública, o Forum Cidadania LX ocorreu num erro, grave, porque ofendeu a imagem da administração desta Fundação;
- De resto, se a FRESS tivesse poder sobre a utilização do espaço público, já teríamos conseguido retirar as centenas de Tuktuks que invadem a fachada da FRESS diariamente, ofuscando a nobreza arquitetónica dos Palácios setecentistas Azurara e Palácio Castelo Novo (sedes do Museu e Oficinas), bem como a sua visualização pelos visitantes do Largo das Portas do Sol.
- Surpreende-me aliás, que a vossa publicação não se tenha referido aos Tuktuks. Convido-os a visitar o Largo entre as 12.00 e as 17.00 para perceberem o quanto aquele magnífico espaço histórico de Lisboa fica transformado numa praça de Bangkok, quer pelo visual, quer pela gritaria, música, consumo de canábis, estacionamento em tripla fila, entupimento do trânsito e completo ofuscamento do “Monumento de Interesse Público”, espetáculo, esse, por maioria de razão, “indigno da história da v(n)ossa instituição e da v(n)ossa missão, indigno das Portas do Sol e da cidade de Lisboa”, para citar um excerto da vossa carta.
Termino, corrigindo, novamente, a vossa publicação: a FRESS não fechou nenhuma oficina. Estão todas em funcionamento e com grande energia. Quanto ao Palácio Azurara, sede do MADP, este Monumento classificado já tem, finalmente, um Planeamento de Obra em curso em fase de Projeto para colmatar os seus problemas de estrutura. Há 70 anos que não tinha uma intervenção de fundo. Finalmente, agora, será intervencionado. Esta Fundação, pela parte que lhe toca, está, de facto, “a fazer muito melhor”.
Exmos. Senhores,
Compete à sociedade civil, como o Forum Cidadania LX, acompanhar este esforço e solidarizar-se com ele. Publicações erróneas como a vossa, apenas prejudicam a FRESS pela difusão de informações incorretas, contrárias à boa imagem da Fundação e ao trabalho de recuperação em curso nesta instituição. Combater o desinteresse das instituições públicas pelo valioso passado e promissor futuro da FRESS já é um desafio considerável. No entanto, enfrentar críticas superficiais e injustas vindas de uma organização civil que, em teoria, deveria zelar pela Cultura de Lisboa e apoiar-nos, parece ser um fardo desnecessário e desproporcional.
Na expectativa que corrijam a vossa publicação,
Com os melhores cumprimentos,
Gabriela Canavilhas
Presidente do Conselho de Administração | President of the Board
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Resposta à resposta da Presidente do CA da FRSS (03.12.2024):
Exmª Srª Presidente do Conselho de Administração da Fundação Espírito Santo Silva
Drª. Gabriela Canavilhas
Agradecemos a V. Exa. a resposta ao nosso e-mail e a rapidez com que o fez, e os esclarecimentos que nos prestou sobre a manutenção das oficinas e a iminência de obras de recuperação do Palácio Azurara, assim se inicie o projecto do citado planeamento de obra, que são muito boas notícias.
Congratulamos V. Exa. por ambas as situações, e fazemos votos para que a obra se inicie rapidamente. Seremos os primeiros a aplaudi-la.
Em relação à esplanada “terceiro-mundista”, motivo central da nossa missiva, o seu licenciamento, como refere e bem, tal como o de todas as esplanadas no espaço público da cidade de Lisboa, é da inteira responsabilidade da autarquia.
Contudo, conforme referimos no nosso e-mail, a Fundação, enquanto senhoria, terá certamente argumentos para intervir junto do inquilino no sentido de este mudar radicalmente a esplanada que, tal como está, contribuiu de forma indiscutível para, ela sim, ofender a imagem da Fundação, em primeiro lugar, e contribuir de forma assinalável para o péssimo estado de todo o largo.
Sob pena de, em última instância, ter motivos para invocar a cessação do contrato.
Aproveitamos o ensejo para colocar à consideração de V.Exa. a oportunidade de considerar a rescisão do referido contrato e a abertura de concurso para uma exploração mais consentânea com o museu da Fundação.
Estamos certos que uma outra esplanada, feita com bom gosto e brio, poderia contribuir pela positiva para que se invertesse a situação do largo.
Infelizmente, o que se verifica é o oposto: esta esplanada contribui para o caos vergonhoso do largo – caos que conhecemos particularmente bem e que temos denunciado e reclamado por variadíssimas vezes, a maior parte delas nos media. Infelizmente nem CML nem Junta de Freguesia se mostram reactivos, muito menos pró-activos, ao problema dos tuk-tuk.
Ainda sobre as oficinas, gostaríamos de saber se a oficina de folha de Flandres ainda se mantém em funcionamento, e quantos artífices é que ainda se mantêm no quadro da Fundação?
Como imaginará, nada nos move contra a Fundação muito menos contra os membros da sua administração, e se demos essa ideia, queira aceitar as nossas desculpas pelo mal-entendido.
Relativamente ao facto de o nosso e-mail ter sido divulgado publicamente, fizemo-lo como fazemos com todas as comunicações que enviamos ou recebemos de terceiros.
Com os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Nuno Caiado, Miguel de Sepúlveda Velloso, Rui Pedro Martins, Filipe de Sousa, Beatriz Empis, Jorge Pinto, Gustavo da Cunha