Reabilitação do Sintra Cinema – Concurso Público – Comentários do Fórum Cidadania Lx e do Q Sintra
Reabilitação do Sintra Cinema – Concurso Público - Comentários do Fórum Cidadania Lx e Q Sintra (21.02.2024)
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra
Dr. Basílio Horta
CC. AM Sintra
No seguimento do anúncio feito pela CM Sintra, em Janeiro deste ano, dando conta da abertura de concurso para a “concepção e reabilitação do Sintra Cinema”, queremos, em primeiro lugar, endereçar os nossos parabéns a V. Exa. e ao Executivo da CM Sintra, por quererem resgatar este equipamento histórico para o convívio dos sintrenses e de quem visita Sintra, para o que contribuiu de forma decisiva a sua oportuna aquisição por parte da autarquia.
Contudo, lido atentamente o Programa Preliminar (Termos de Referência) disponibilizado ao público (https://cloud.cm-sintra.pt/s/r5MQreiG4BpaD5C ), não podemos deixar de chamar a atenção de V. Exa. para alguns aspectos que nos parecem preocupantes, uns, e contraditórios, outros, e que, durante a análise das propostas que, entretanto, tiverem sido recepcionadas pela CM Sintra até ao dia 9 do corrente, importará ter em consideração.
Permita-nos as seguintes considerações:
Parece-nos preocupante o duplo pressuposto em que assenta o Programa Preliminar, ou seja, por um lado a necessidade de se “conceber” um equipamento, e que esse espaço seja um teatro, quando sempre foi cinema, construído para tal; um equipamento que, recordamos, já se encontra “concebido” e por Faria da Costa, um arquitecto que dispensará apresentações.
Esse pressuposto poderá querer significar que o resultado final da reabilitação do Sintra Cinema possa vir a ser uma construção nova, com a inevitável “marca de autor”, por que quase todas as salas de espectáculo têm passado quando são reabilitadas, e não, como seria de esperar, apenas a recuperação do projecto original de Faria da Costa, ainda que adaptado, naturalmente, às novas exigências técnicas decorrentes da evolução da legislação aplicável a salas de espectáculo.
Consideramos grave que assim seja, uma vez que isso significará que, no fim, restarão apenas do edifício primitivo, a fachada principal e parte do seu magnífico balcão interior. Para o que concorrerá também a necessidade em dotar o Sintra Cinema de camarins, com a inevitável abertura de vãos, ampliações e novas construções, contribuindo para a adulteração estética e espacial do edifício, camarins a nosso ver dispensáveis se a intenção for recuperar o projecto original.
Mais preocupados ficamos quando verificamos que os termos de comparação sugeridos pelo Programa Preliminar como sendo “soluções plausíveis” para o Sintra Cinema, são o Cine-Teatro Capitólio, em Lisboa, ou o Teatro Jordão, em Guimarães.
Porque, se do antigo cinema de Cristino da Silva no Parque Mayer, depois de ter sido completamente arrasado por dentro pelo arq. Alberto Oliveira (vencedor de um concurso público de “reabilitação” promovido pela CML…), resta apenas o “invólucro” (fachadas, néon e cobertura), em que se tornou impraticável a encenação de peças de teatro ou a projecção de filmes no seu interior, como é do conhecimento público e muitos encenadores já o disseram;
Já do vimaranense Teatro Jordão apenas resta a fachada principal, já que tudo o mais é construção nova, contemporânea, travestida de reabilitação.
Parece-nos que Sintra só teria a ganhar se a reabilitação do Sintra Cinema se traduzisse, simplesmente, pela recuperação do projecto original de Faria da Costa, de sala de cinema (com possibilidade de se fazer teatro de pequena escala, stand-up comedy, ou outra) com as inerentes alterações legais, até porque, sendo a sua construção em betão, o edifício actual não apresentará problemas de maior na sua estrutura.
Por outro lado, ressaltam do Programa Funcional do concurso alguns aspectos pouco claros, que importaria esclarecer, nomeadamente no que concerne às demolições, alterações e ampliações previstas ou a permitir, desde logo no que se refere ao balcão do Sintra Cinema, pois é referida a possibilidade de se “cortar o balcão”, o que, a verificar-se, significará destruir-se o único detalhe arquitectónico e estético relevante do interior do Sintra Cinema: o seu balcão.
Não faz sentido amputar-se o balcão, por mais tentativas de justificação que se apresentem, espaciais, funcionais ou outras, muito menos que para isso concorra a incorporação de uma “bancada retratável”.
Também o hipotético rebaixamento do pé-direito do edifício constituirá um sério revés em termos de leitura da sala, com impacto na caixa de som da mesma e na boa acústica da sala.
Finalmente, perguntamos a V. Exa. se faz sentido a abertura de um café-concerto-esplanada na cobertura do cinema, com 175m2 de área, por mais inspiração que o Programa tenha ido beber ao projecto original do Capitólio, o qual acabaria por ser descartado no projecto de “reabilitação” de Alberto Oliveira.
A abertura desse espaço no Sintra Cinema fará convergir para o centro da Portela muito mais pessoas do que as frequentadoras dos espectáculos, com o que isso acarretará de tráfego automóvel, necessidades de estacionamento, mais ruído, luzes e acumulação de lixo no espaço público.
Com os melhores cumprimentos
Pelo Fórum Cidadania Lx,
Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Jorge Pinto, Paulo Trancoso, Helena Espvall, Fátima Castanheira, Ruth da Gama, Beatriz Empis
Leave a Reply