Exmo. Sr. Dr. José Ribeiro e Castro
Presidente da Direcção da Sociedade Histórica da Independência de Portugal
C.C. Património Cultural, IP
No seguimento da comunicação que V. Exa. teve a amabilidade de nos enviar em Março de 2023, designadamente quando referiu que o projecto em apreço respeitaria escrupulosamente as características do Palácio e dos seus materiais, confessamos a nossa decepção por vermos que estão a ser colocadas telhas de fabrico industrial (foto 1). Algumas vozes mais críticas consideram que as novas telhas mais parecem de “plástico”), substituindo as lindíssimas telhas (fotos 2 e 3) que cobriam a totalidade do Palácio, e que, ao contrário das novas, tinham uma bela patine, variação subtil de tons que davam mais carácter ao edifício.
Havendo a necessidade de substituir as telhas, não compreendemos como as telhas não foram alvo de uma escolha mais cuidada, garantindo as qualidades do fabrico artesanal, que seriam bem mais apropriadas a um palácio Monumento Nacional, como é o caso, e não estas novas que apesar de serem, com certeza, de qualidade, falham o critério da adequação e harmonização estética por serem de fabricação estritamente industrial.
Ficamos agora apreensivos quanto aos critérios adoptados para as caixilharias de madeira maciça dos vãos, desenhadas por Raul Lino: também elas serão substituídas?
Fazemos votos para que não sejam substituídas por caixilharias em alumínio ou PVC com vidro duplo.
E que as belas adufas na fachada a tardoz sejam sabiamente restauradas (foto 4).
E muito gostaríamos que, aproveitando as obras em curso, fosse retirada a pála de vidro que existe num dos cantos do pátio, assim como reaberta a galeria do piso térreo da Rua das Portas de Santo Antão, com a eliminação de todos os espaços comerciais ali existentes, que em nada contribuem para a dignidade do Palácio e da própria cidade.
Com os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Maria Ramalho, Miguel de Sepúlveda Velloso, Nuno Caiado, Fernando Jorge, Fátima Castanheira, Carlos Boavida, Jorge Pinto, Beatriz Empis, Gustavo da Cunha, Ana Celeste Glória, Teresa Silva Carvalho
…
Resposta do Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (10.10.2024)
«Exmos. Senhores,
A vossa carta mereceu a nossa melhor atenção. Assim, sem prejuízo dos breves comentários que ainda farei neste correio, abrimos as portas a uma vossa visita, guiada pelo Vice-presidente da Direcção, Dr. Gustavo Mesquita Guimarães, que tem dirigido a obra, por nossa parte, e assegurado o seu acompanhamento, com muita experiência e de forma magnífica. Ele tem todo o gosto em vos receber, responder às vossas questões (é sempre mais fácil falar do que estar com carta para cá e para lá), explicar os problemas surgidos e as soluções encontradas, bem como expor o andamento dos trabalhos e o seu fim previsível.
Peço que estabeleçam diálogo directo, a fim de marcar a vossa visita para a melhor altura para todos. Terá certamente de haver um limite no grupo de vossos representantes, pois o espaço é exíguo e as obras estão a decorrer. Conversarão sobre isso também. Para essa marcação, o endereço e-mail do nosso VP está em CC.
A Sociedade Histórica quer servir da melhor forma, em tudo o que for possível e da nossa responsabilidade e decisão, os interesses do património histórico e do património cultural reflectidos e expressos no Palácio. Estamos, ainda, bem conscientes de “morarmos” num Monumento Nacional, que queremos ver respeitado e bem conhecido e valorizar. Por isso mesmo, os projectistas trabalharam sobre a pressão exigente destes critérios e sempre reclamámos trabalhar em articulação com a DGPC, além da CML, que é o financiador. Essa articulação existiu em todas as fases deste processo, desde 2016 (e mantém-se), nomeadamente nos momentos em que houve (ou houver) que tomar decisões mais sensíveis ou críticas.
Quanto às telhas, que não são obviamente de plástico, nem a tal minimamente se assemelham, é claro que, se as telhas antigas estivessem em condições, teriam ficado. Acontece que não estavam. Numa fase inicial das obras, fomos confrontados com a constatação de os telhados necessitarem, em geral, de telhas novas, por as antigas estarem, na generalidade, muito deterioradas e não assegurarem minimamente a função. Na verdade, nos invernos dos últimos anos, foi frequente chover (e, nalguns pontos, abundantemente) em diferentes secções do Palácio. Houve mesmo um corredor em que os bombeiros tiveram de interditar a circulação. Assim, partiu-se para um telhado novo, sendo a decisão de escolha das telhas participada nos termos acima descritos. Cremos que se escolheu a melhor solução.
Que aspecto tem, então, o telhado? Tem o aspecto de um telhado novo. Imagino que isto possa ter acontecido outras vezes, na longa vida deste Palácio, e possa voltar a acontecer daqui a, por exemplo, 100 anos. Acontece. Quando os telhados estão velhos e em ruína, a solução é telhados novos – é claro, escolhidos com critério. E houve esse critério. Ainda se pôs, por exemplo, a hipótese de escurecer as telhas novas, pintando a patine, o que foi unanimemente rejeitado. Os que mais responsabilidades técnicas e profissionais têm nesta abordagem, rejeitam quaisquer arranjos artificiais e falsos, sendo firmes na ideia de que… a patine vem com o tempo. O que, bem vistas as coisas, é a verdade: a patine vem com o tempo.
Quanto à introdução de PVC e alumínios, é evidente que não haverá. É até uma ideia quase ofensiva. Quanto à pála de vidro, será eliminada. E o projecto não prevê a alteração das secções que dão para a Rua das Portas de Santo Antão.
Por fim, uma contingência geral: esta obra tem um custo e esse custo não pode ser excedido. O imóvel é do Estado, como saberão. E o Estado quase nada contribui. Seria certamente outra coisa, se abrisse os cordões à bolsa ou, ao menos, provesse aos custos correntes de manutenção e conservação. A degradação do edifício ao longo dos últimos anos teve muito certamente a ver com isso – sabemos como os processos de deterioração são mais céleres em imóveis antigos. O Estado, além disso, nunca se dispôs a suportar esta reabilitação, tendo de ser a Câmara a chegar-se à frente. Porém, a CML, que não é dona do Palácio, teve muitas limitações naquilo que podia estar disponível a custear. Por isso, as circunstâncias impuseram um projecto algo minimalista, que deixou de lado algumas áreas e secções do Palácio. A obra tinha como alavanca a criação de um museu/centro de interpretação e propunha-se ainda reabilitar coberturas e outras áreas mais degradadas. Tem-se conseguido ampliar a obra a áreas muito carenciadas, sem afectar o equilíbrio orçamental global. Temos muito respeito pela generosidade da Câmara e pelos dinheiros que colocou nas nossas mãos.
Leave a Reply