À Administração da Infraestruturas de Portugal
C.C. Ministério das Infraestruturas, Ministério da Cultura, Gabinete do PM, Comissão da AR, Presidente da CML, Secretaria de Estado da Cultura, Presidente do Património Cultural, Comissão Nacional UNESCO , CP e Agência LUSA
Exmo. Sr. Presidente do C.A. da IP
Doutor Miguel Cruz
Serve o presente para manifestarmos a nossa estupefacção e protestarmos junto de V. Exa., pela colocação recente de catenárias na Linha de Cascais que obstruem de forma inequívoca a leitura da Torre de Belém, Monumento Nacional e Património Mundial!
De facto, a vista da Torre de Belém desde a Avenida da Torre de Belém – avenida que foi desbravada naquele local para que se garantisse a plenitude de vistas desde a Capela de São Jerónimo até à Torre de Belém – encontra-se seriamente agredida, pelo que solicitamos a colocação urgente dessas catenárias noutro local, de modo a que a situação não se torne irreversível.
Na expectativa, apresentamos os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Miguel de Sepúlveda Velloso, Nuno Caiado, Luis Mascarenhas Gaivão, Rui Pedro Martins, Paula Cristina Peralta, Filipe de Portugal, Jorge Pinto, Carlos Boavida, António Araújo, Beatriz Empis, Ana Alves de Sousa, Irene Santos
Foto de Pedro Formozinho Sanchez
…
Resposta da IP (17.4):
«Exmos. Srs.
Relativamente à vossa exposição sobre a colocação de catenárias na Linha de Cascais que obstruem a leitura da Torre de Belém, cumpre informar o seguinte:
Um sistema de catenária é composto por um conjunto de cabos tracionados, dispostos sobre a via-férrea, que têm como função o transporte de energia elétrica aos comboios. Adicionalmente são necessárias várias estruturas de suporte (sendo os postes em questão apenas uma parte dessas estruturas), cuja função é assegurar a fixação e suporte de um, ou mais, cabos de forma continua a uma altura constante e posição compatíveis com os pantógrafos dos comboios (que ao circular, a várias velocidades e com as suas oscilações, provocam esforços nestes cabos). Estes sistemas cumprem regras muito complexas e rígidas, condicionadas pelo traçado (retas, curvas e a linha vizinha), estações, passagens superiores (limitação de gabarito vertical, como p.e. a existente na proximidade do local referido), aparelhos de mudança de via (vulgo agulhas), etc. A posição de um poste é interdepende com o posicionamento da sequência de postes que lhe são adjacentes.
Em adição, esclarece-se, ainda, que a catenária ferroviária, em construção, é um objeto alvo de certificação (da fase de projeto e obra) que cumpre com diversos requisitos de interoperabilidade ferroviária (regulamentação nacional e europeia) e que não é fácil acomodar alterações a este sistema. Salienta-se que alterar a localização, de um poste, até 1.5/2.0 m é possível, sem impactar de forma significativa os postes adjacentes, situação que, no entanto e para o presente caso, não introduziria qualquer alteração ao local global do poste. Uma alteração dos vãos, tão radical que englobasse a totalidade da frente da Av. da Torre de Belém, teria impacto nos 15 a 20 tramos adjacentes, comprometendo, ou inviabilizando, as localizações previstas dos outros postes nas estações de Belém e Algés, ao longo do conjunto das curvas no troço e principalmente aumentaria a complexidade da integração nos aparelhos de mudança de via previstos (em Algés) e nas novas diagonais de contravia a instalar. Estas diagonais, são um conjunto de aparelhos de mudança de via, que otimizarão a utilização da linha em regime degradado, podendo (em conjunto com a nova sinalização) permitir a utilização de qualquer uma das vias em qualquer sentido.
Salienta-se que houve o cuidado em assegurar, ao longo da linha, que pontos relevantes próximos fossem o mínimo possível impactados com os novos postes. Alterações num local em que há distância física dos pontos de vista menos relevantes (eixo rodoviário da Av. da Torre de Belém) para outros em que os passeios utilizados (p.e. os da mesma avenida) ficariam mais condicionados e sem se antever se tais alterações teriam ou não impacto noutros locais, da mesma frente ribeirinha, parece-nos complexo e contrário ao pretendido. Sendo que, no futuro próximo, a IP irá remover todos os postes da catenária “antiga”, libertando muitos novos locais das eventuais limitações (nunca anteriormente esta questão foi levantada, demonstrando que não se antevê uma alteração de perceção com os novos postes de catenária) que o presente pedido tenta responder.
Agradecemos o contacto.
Com os melhores cumprimentos
Diretora do Departamento de Gestão do Cliente
Sónia Figueira
(Ao abrigo da subdelegação de competências)»
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Nossa resposta (22.4): ««Exma. Sra. Directora Sónia Figueira
Agradecemos a rapidez e a clareza da vossa resposta, mas isso não invalida o erro de base da questão que vos colocámos, ou seja: as novas catenárias colocadas no enfiamento da Avenida da Torre de Belém agridem as vistas e a leitura da Torre de Belém, Monumento Nacional e Unesco. Que isso tenha sido permitido por quem de direito (desde logo a DGPC), é inaceitável.
Pedimos-vos o favor de eliminarem os 2 novos postes colocados recentemente nesse troço, colocando os cabos nas antigas catenárias, uma vez que essas não têm impacto absolutamente nenhum no Património Mundial, desde logo porque se encontram alinhadas com os passeios e não no meio da via defronte ao nosso monumento Património Mundial!
Muito obrigado.
Com os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero e Pedro Formozinho Sanchez
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Resposta da CML (02.05.2024)
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