Petição pela Reabertura do Museu de Arte dos Doentes e das Neurociências no Hospital Miguel Bombarda
Petição pela Reabertura do Museu de Arte dos Doentes e das Neurociências no Hospital Miguel Bombarda (14.11.2023)
À atenção da Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa e dos Senhores Deputados Municipais
Como é do conhecimento público, funcionou até há poucos anos no Hospital Miguel Bombarda (HMB), o Museu de Arte dos Doentes e Neurociências, o qual exibia em permanência uma parte da vastíssima colecção de milhares de obras artísticas, material clínico e hospitalar, livros manuscritos raros, etc., da longa e riquíssima história do HMB desde 1848, marco indelével da história da psiquiatria em Portugal.
O Museu funcionava em pleno nos edifícios do Pavilhão de Segurança (vulgo “Panóptico”), no Balneário D. Maria II, e em parte do edifício principal do Hospital, nomeadamente no gabinete do prof. Miguel Bombarda e no salão do piso térreo.
Ali estavam expostos cuidadosamente muitos objectos, instrumentos clínicos e mobiliário hospitalar, variadíssima documentação histórica, e pinturas, fotografias e outros, da autoria dos doentes, com especial destaque para o valioso acervo em Art Brut/Arte Outsider.
Infelizmente, em 2010, no seguimento do encerramento do Hospital, o Museu passou a estar aberto muito esporadicamente e reduzido apenas ao Pavilhão de Segurança, uma vez que o Balneário apresentava acentuada degradação, e o edifício principal foi esvaziado.
Em 2018, o Pavilhão-Museu encerrou portas.
Paralelamente, grande parte do acervo histórico e clínico do HMB foi transferida para o Centro Hospital Psiquiátrico – Hospital Júlio de Matos (HJM), designadamente livros e documentos, plantas do edificado, ficheiros clínicos, fotografias de doentes e por doentes, e algumas obras de arte, incluindo o retrato do Duque de Saldanha, da autoria de José Rodrigues (1852) e que se encontrava no gabinete do prof. Bombarda, um retrato deste, por Veloso Salgado, pinturas de Valentim de Barros e de outros.
No Pavilhão de Segurança ficou o espólio que estava em exposição aquando do encerramento do Museu e o depositado no seu refeitório e em algumas das celas.
Em Junho de 2023, sob a alçada do HJM (entidade que tutela a colecção) e a permissão da ESTAMO (proprietária dos edifícios do antigo hospital), entidades que importa aqui louvar, foi constituído um grupo de voluntários que se encontra a fazer um levantamento exaustivo de todo o acervo do HMB, existente no Pavilhão de Segurança e no HJM, com vista à sua classificação pela DGPC. Para que se garanta a sua preservação in situ. Para que as pessoas tomem consciência da sua existência. Para que a história do HMB não se dilua. Para que a colecção tenha o reconhecimento público que merece, enquanto valor cultural e histórico do país, e para que não se disperse, mais do que já se dispersou.
Daí que a reabertura do Pavilhão de Segurança enquanto Museu seja fundamental, o mais cedo possível.
Pelo exposto, os abaixo assinados apelam à Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa e aos Senhores Deputados Municipais, no sentido de assegurarem junto da ESTAMO, proprietária do Pavilhão de Segurança:
• A reabertura ao público, a muito curto-prazo, do museu in situ no Pavilhão de Segurança; • E, consequentemente, seja restaurada a sua porta e reparadas as claraboias do pavilhão; • E se verifique a presença de vigilante durante o período de abertura do museu ao público.
Lisboa, 14 de Novembro de 2023
Os abaixo assinados,
– Alexandre Pomar (Jornalista, crítico de Arte) – António Barreto (Sociólogo, investigador) – António Barros Veloso (Médico, investigador) – Isabel Almasqué (Médica, investigadora) – João Neto (Director do Museu da Farmácia, Presidente da Associação Portuguesa de Museologia) – José Aguiar (Professor Catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa) – José Manuel Jara (Médico psiquiatra, fundador da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares) – Luís Raposo (Arqueólogo, membro do Conselho Executivo do ICOM-International Council of Museums) – Maria Filomena Mónica (Doutorada em Sociologia, investigadora e escritora) – Raquel Henriques da Silva (Professora universitária de História da Arte, Universidade Nova de Lisboa) – Soraya Genin (Arquitecta, Presidente do International Council on Monuments and Sites Portugal) – Vítor Serrão (Professor catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa, Instituto de História da Arte)
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